Há muito tempo venho tentando entender e correlacionar, inclusive no aspecto estatístico, a relação entre longevidade e felicidade. Buscando em literaturas especializadas, nada encontrei que abordasse esses dois temas, de forma conjunta. Frequentemente, encontrei tentativas de se correlacionar a longevidade com a saúde, física e/ou mental, com os hábitos alimentares, com o IDH, com a renda, com se ter um propósito/objetivo, com o sentimento de pertencimento, com a estrutura familiar, cultura, geografia, entre outros fatores, seja de modo isolado ou mesmo combinado. De fato, sem nos trazer grandes surpresas, se constata haver relação direta, sim, entre esses fatores, bem como, um número considerável de exceções, quase capazes de jogar por terra quaisquer certezas.
Só para ilustrar, é comum termos notícias de “celebridades” longevas, o que pode nos induzir a ideia de que um “pseudo sucesso” (notoriedade), associado ao acúmulo de bens materiais, possa contribuir para uma vida mais duradoura. Em contrapartida, quando os noticiários nos presenteiam com informações sobre idosos que batem os recordes de existência, nos deparamos com pessoas simples, humildes. É o caso da japonesa Kane Tanaka, com 117 anos, considerada, atualmente, pelo Guinness Book, como a pessoa viva mais idosa do planeta. Isso sem falar na nossa baianinha, Dona Maria São Pedro Conceição, que nasceu em 1901 (completou 118 anos em agosto de 2019), e que mesmo tendo nascido após a assinatura da Lei Ã?urea, chegou a ser escravizada, mas que não teve igual reconhecimento pelo Guinness.

Por outro lado, a Felicidade, quando confrontada aos mesmos fatores, até onde pude extrair da visão de quem estuda a fundo o tema, não apresenta correlações tão firmes ou contundentes, mas que nos leva a crer na importância da combinação destes múltiplos fatores. Assisti, recentemente, a uma entrevista (live, para quem curte), do Prof. Dr. Táki Athanássios Cordás – Coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, com um grande amigo, João Carlos Ferreira – Coach de executivos e de pacientes em crise de saúde, pela FTR, um profundo estudioso da felicidade. Nessa ocasião, pude obter mais clareza sobre alguns aspectos e, me permiti me confundir mais em outros. Em certo momento, falou-se sobre a diferença entre alegria e felicidade, sendo a primeira uma emoção e a segunda um sentimento. Em se tratando de sentimento, assim como o Amor, de complexa definição, como visto no soneto de Camões – Amor é fogo que arde sem se ver, mas de fácil compreensão, quando sentido ou experimentado.

Em outros estudos, vemos uma correlação entre a felicidade e a nossa química hormonal, com destaque para a Dopamina, Oxitocina, Serotonina e a Endorfina, que, quando bem ajustadas, agem em nosso cérebro nos proporcionando a sensação de felicidade.

Legal, mas e daí? Qual a relação entre longevidade e felicidade? Bem, na verdade, em nossa avaliação, não é possível se fazer ou comprovar, ao menos ainda, nada neste sentido. Seguramente, longevidade não traz felicidade e felicidade não implica em longevidade. Então, você pode estar se perguntando, por que abordar esse tema? A resposta é bem simples e creio que todos, cientistas, estudiosos ou leigos, irão concordar. Mas, antes de responder, levanto apenas mais um ponto. É sabido que, atualmente, o Ser Humano está acrescentando anos a sua existência. A média de vida em todos os países, por diversas razões, vem crescendo significativamente e, muito provavelmente, temos boas chances de romper a barreira dos 80 e 90 anos

Sendo isso verdade, não fica claro que deve ser muito melhor passar a velhice “feliz”, do que triste? Ao menos, foi o que constatou o poeta Vinicius de Moraes. E não digo isso apenas por nós, como indivíduos, mas também olhando para o coletivo e para aqueles que estão diretamente a nossa volta. Já percebeu como é difícil, e desagradável se relacionar com pessoas angustiadas, frustradas, ou mesmo, deprimidas? Imagine, quem irá querer nos aturar, sendo familiar ou não? E se o fizer, como irá reagir? E como não podemos prever, com exatidão, o dia de amanhã, não sabemos se estaremos lúcidos ou não, capazes ou não de decidirmos sobre nossas vidas. Melhor tratarmos de preparar o terreno, enquanto temos essa oportunidade.Ou seja, se tudo der certo em nossas vidas, passaremos muito mais tempo experimentando a “velhice”, do que passamos nos estágios anteriores (infância, adolescência, fase adulta). Se não somos felizes ou satisfeitos hoje, o que nos levaria a crer que isso mudará na velhice?

Para idealizarmos e projetarmos um senescer que nos assegure dignidade e satisfação, devemos trabalhar, desde já, os diversos aspectos envolvidos. Não adianta, como muitos o fazem, focar apenas em assegurar uma boa poupança (recursos financeiros). Muitos que optaram por essa linha, não raro, se lamentam do alto investimento e dos baixos retornos, em termos de estilo e condições de saúde e desfrute na velhice. Claro que não devemos, jamais, negligenciar esse aspecto, principalmente se não quisermos depender dos outros ou passar por dificuldades, mas não podemos tratá-lo de forma exclusiva, pois como bem se sabe, também não é o dinheiro que traz felicidade, nem sossego, nem paz de espírito. Cada indivíduo possui sua própria fórmula da felicidade. Infelizmente, nem todos têm a sorte de desvendá-la e aplicá-la.

É preciso, antes de mais nada, conhecer a si mesmo a fundo. Sei bem o quanto é difícil se definir com clareza, identificar nossa razão de existência, nosso propósito e identificar o que nos é gratificante. Mas, podemos trabalhar por eliminação, tirando do caminho ou minimizando a atenção e o tempo que destinamos ao que não importa e que nos agride. Observar bons e maus hábitos, sejam alimentares, comportamentais ou relacionais. Nesse momento que se percebe como o bom entendimento de nós e nosso presente, seguidos da realização de ajustes em nossa forma de enxergar e lidar com relações e situações, nosso hábitos, temperamento e comportamentos, sem falar em nossos fatores orgânicos, será vital para construirmos nosso estado de compleição positiva e de felicidade. Podemos, sim, aprender com o poeta Vicente de Carvalho, que cabe exclusivamente a nós colocarmos nossa felicidade e “vitaliência” em local que esteja “a nosso alcance”.Independente da impossibilidade de se obter todas as respostas, recomenda-se, ao menos, elaborar as perguntas que realmente importam e avançarmos na busca. Digo isso pois, as pessoas mais interessantes e mais “vitalientes” que conheci na vida, não foram as que julgavam ter encontrado todas as respostas, mas sim, as que não se cansavam de fazer novas perguntas.

Que tal, começar a pensar no seu futuro, desde já? Ou você prefere, mais tarde, ouvir o assombro de Carlos Drummond, sussurrando ao seu ouvido, “E agora José?”.

Chronossomos – para viver BEM mais

Mauro Schweizer Leite
Engenheiro, consultor de negócios e empreendedor, é o fundador e CEO da Chronossomos. Autodidata no estudo da vida e do envelhecer com dignidade, tem como missão, promover a reinclusão e atenção ao senescente, valorizando sua capacidade contributiva e resgatando seu reconhecimento e relevância como agente transformador da sociedade.

Felicidade

Poema de Vicente de Carvalho

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Ã?rvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”

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https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/01/05/japonesa-de-117-anos-e-a-pessoa-mais-idosa-do-mundo-segundo-livro-dos-recordes.ghtml

https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/11/02/familiares-de-idosa-com-118-anos-na-ba-tentam-inclusao-no-livro-dos-recordes-minha-caneta-foi-uma-enxada-diz-a-centenaria.ghtml

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