A aposentadoria é geralmente vista de forma pejorativa, sobretudo no Brasil. Geralmente associada ao tédio, desesperança, a incapacidade, como se fosse um beco sem saída. Mas, na verdade, isso é um equívoco completo, ao menos para quem se prepara adequadamente para ela, isto acaba por ficar bem longe da realidade.

Na verdade, a aposentadoria é o início de uma NOVA fase da vida, que pode ser altamente satisfatória, significativa e gratificante. Potencialmente até melhor do que a dita “fase produtiva”, desde que façamos algumas escolhas inteligentes e sigamos as estratégias certas. Como outras coisas importantes na vida, devemos ter algum propósito maior, algum objetivo ou missão na vida para cumprir depois de nos aposentarmos. E antes que você ache que aposentar significa parar… você está bastante equivocado.

Jimmy Carter, o ex-presidente dos EUA, em seu livro “The Virtues of Aging”, destacava esta fase como, “o tempo para mudarmos nossas ambições e passarmos a nos concentrar no que de fato faz sentido e traz significado para nós.” A bem da verdade, isso promove uma reformulação na forma com que lidamos com o mundo e as relações que construímos, deixando de nos preocupar tanto com o que os outros demandam e esperam de nós, assumindo, enfim, o protagonismo em nossos desejos e vontades. De fato, a aposentadoria representa uma grandiosa oportunidade, que nos abre portas, nos permitindo resgatar sonhos e propósitos. A esta nova fase da vida, Carter denominou como Golden Period (período de ouro) ou 2nd Innings (2ª Rodada).

Culturalmente, no Brasil, não estamos habituados a planejar nada que ultrapasse o horizonte de 5 anos. E quando o planejamento ocorre no foro pessoal, a coisa se complica mais ainda. Em parte, por vivermos em eterno turbilhão, de outro lado, a longevidade, atualmente alcançada, é matéria recente em nossas vidas. O pouco que projetamos, relativo ao Plano de Aposentadoria, nos remete de imediato aos produtos de Previdência Privada e a formação de reservas financeiras. Pouco ou quase nada é pensado ou estruturado para dar anteparo e suporte na condução desta transição, resultando no reforço involuntário do estigma negativo.

Em minha vida como consultor organizacional, tive a oportunidade de me relacionar com todos os tipos de profissionais, e sempre adorei as conversas e trocas de vivências com os mais maduros. Delas, pude despertar para tais desafios e busquei antecipar meu preparo. Creio ter iniciado meus preparativos por volta dos 35 anos, já um pouco tardio, se queres minha opinião. Sem desconsiderar o fator sustento (financeiro), notei que a grande maioria das pessoas que se aposentam, anseiam por seguir laborando e quase nenhum havia pensado no “day after”. Com o tempo e já tendo colocado meu Plano “A” em ação, que consistiu em trilhar caminhos autônomos, aos 43 anos, passei a ser muito procurado pelos meus “velhos amigos”, que, então, começavam a encarar o ingresso na aposentadoria. Muitos tiveram a humildade em pedir ajuda e alguns poucos confessaram suas maiores dificuldades ao encarar essa nova fase.

O maior problema enfrentado pela grande maioria, consistia no fato de não terem pensado no que fazer imediatamente após o afastamento de seus postos. Mesmo com uma sensação de estarem cometendo um grave erro, a maioria insistia em tentar dar continuidade ao que acabara de deixar. A força do hábito seguia direcionando seus caminhos e impedindo a adoção de novas lentes. A verdade é que não haviam se planejado e, nem mesmo refletido a fundo sobre essa inevitável transição. Insistiam em “mais do mesmo” e, o pior, sem muitas chances de conseguir.

Outra constatação diz respeito ao impacto na autoestima de boa parte, mas isso demorava um pouco a aparecer. Uma vez que não ocupavam cargos e nem carregavam sobrenomes corporativos, as demandas e procuras, aos mesmos, começou a minguar. Infelizmente, em nossa cultura, o networking só tem valor junto a quem detém a caneta da decisão. Entretanto, essa é a hora perfeita para se separar os verdadeiros amigos do “joio”.

Por fim, para não estender em demasia a lista, destaco a necessidade em reaprender o básico. Uma vez alijados das estruturas corporativas, com suas benesses e facilidades, voltar a operar uma impressora, ajustar e atualizar seus hardwares e softwares, gerenciar a agenda, entre outras atividades, demandaram certo empenho, mas foram úteis para comprovar a eterna capacidade de aprendizagem e reaprendizagem.

Naturalmente, a amplitude dos impactos é diversa e ampla. Porém, o objetivo deste relato foi apenas provocar para a triste realidade do despreparo e desprezo a uma das mais importantes viradas em nossas vidas.

Comece refletindo, o quanto antes, sobre a vida que você deseja para si. Esqueça, num primeiro momento, a opinião e anseios dos outros. Resgate sonhos e ideais, e reescreva seu propósito. A partir daí, identifique os recursos (físicos, mentais, tecnológicos, materiais, financeiros e emocionais), que irá precisar e inicie seu Plano de Aposentadoria. Pense bem em como aplicar seu tempo e tirar melhor proveito de sua experiência.

O quanto mais cedo você começar, melhor! Vai por mim. Ah! Se desejar se aprofundar no assunto, leia também o livro Retired but not tired, de BK Trehan & Indu Trehan.

Vida longa e próspera!

Mauro Schweizer Leite