Olá! Primeiramente, você deve estar achando estranho o título do texto, mas é isso mesmo… quero falar sobre um tema pouco conhecido e comentado, afinal, as aventuras dos senescentes não trazem tanta publicidade e interesse ao público “consumidorâ€?. Entretanto, entendo que esse tema seja de máximo interesse dos que já venceram a barreira dos 50 e sabem que têm muito a viver e desfrutar pela frente.

A cada dia vencemos novos desafios, estamos vencendo até mesmo o tempo, mas há uma coisa que parece ter se intensificado no século passado, a qual é difícil vencer, que é o preconceito. Mas, temos que seguir lutando.

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Parece haver um falso consenso global de que o “idoso� é um ser vulnerável e dependente. Basta olharmos os ícones utilizados para simbolizá-los. Mas, a realidade é bem diferente disso. Podemos sim, apresentar algumas perdas no campo da resistência física, mas são comprovados pela ciência os ganhos em outras competências, sobretudo intelectuais e emocionais, pois, segundo especialistas, consolidamos nossa Inteligência Cristalizada, que nos confere maior praticidade e criatividade na resolução de problemas e na cooperação. Afinal, não precisamos mais provar nada para os outros. Talvez, por isso mesmo que nossas proezas sejam menos divulgadas.

Recentemente, cumprindo minha clausura, li o livro A Volta ao Mundo em um 12 pés, de Serge Testa. Fiquei maravilhado com sua narrativa, considerando o fato de que ele tenha dado a volta ao planeta, sozinho, durante 500 dias, num barco com menos de 9 m2, nos idos de 1984-85. Essa passagem me ajudou a refletir e encontrar novas formas de encarar nosso “confortável� confinamento. Sim, ele relata suas oscilações de humor, suas angústias, temores e dissabores, mas destaca com imensa satisfação os poucos, mas grandiosos momentos de alegria e júbilo, mesmo que com coisas simples, como a companhia de um golfinho ou o voo de um albatroz. Mas, de repente, surge um encontro com um outro solitário navegador, Sir Joshua Taylor, na ocasião com 76 anos, circunavegando o planeta, mais uma vez, a bordo de seu Iate Comitan. Este, com talvez o triplo do tamanho do Acrohc, barco de Testa, e naturalmente mais confortável e seguro.

Como apaixonado pela vela, ainda alimento o sonho de poder realizar uma aventura dessas. Com isso, me pus a investigar esse universo e me deparei com um sem número de “Barcos a Velhos” navegando mundo a fora.

Temos desde casos como o do espanhol, Antônio de La Rosa (51), que navegou a remo, em um Stand Up Padle (SUP) especial, por mais de 4.500 km, no Oceano Pacífico, como do mineiro Aladir Murta, que aos 63 anos, filhos criados, encontrou sua real vocação e realização, numa canoa de madeira, na qual navegou pelo Rio Araguaia, até a Ilha do Bananal e, daí, não parou mais. Hoje, mais de 10 anos de sua 1ª expedição, segue Brasil adentro, através do Solimões, Negro, Amazonas, São Francisco, Velhas e tantos outros, acumulando mais 60 mil quilômetros de histórias, aventuras e realizações. É considerado o maior navegador solitário do mundo por revistas especializadas e autor do livro Além dos Rios, onde narra suas experiências e sua evolução no campo espiritual. Em uma de suas jornadas, navegou mais de mil quilômetros no Rio Jequitinhonha, de Medanha até a foz, em Belmonte, na Bahia, de onde seguiu até Santa Luzia, para visitar a mãe, de 104 anos.

Não dá para citar o gigantesco número de aventureiros seniores que existem e navegam por esse planeta, mas dá para se pensar sobre o que eles têm em comum e trazer algumas reflexões para nossas vidas e cotidiano.

Em geral, eles manifestam um inconformismo com o status quo, grande determinação e uma enorme capacidade de planejamento, organização e superação. Isso sem falar na crença que, como poetizou Fernando Pessoa,
“Navegar é preciso; viver não é preciso.�

Esse preciso se faz, tanto no contexto da necessidade, como no aspecto da precisão e perfeição. Sim, pois para vencer esses desafios é necessário muito preparo e meticuloso planejamento. O próprio Amir Klink, outro grande navegador, sempre refutou ser chamado de aventureiro, por trazer a conotação de despreparo e improviso, coisas que sempre estiveram longe de suas embarcações e expedições.

Pois bem, em tempos de isolamento, porque não abrir espaço em nossas mentes para novos projetos e propósitos que andaram engavetados. O momento é propício ao estudo e planejamento de grandiosos projetos pessoais. Somos, sem sobra de dúvidas, mais capazes de enfrentar dificuldades e a solidão do que podemos imaginar. Traçar objetivos, mesmo que de curto prazo, nos ajudam a manter a atenção sobre o que realmente importa, desativando assim as angústias e medos.

Usemos nossas competências acumuladas e a serenidade para finalmente projetar aquela viagem, aquelas visitas, a realização de novos cursos, seja lá o que for. Temos que realizar que somos anciões e que por definição detemos experiência e merecemos reconhecimento e, acima de tudo, respeito.

Tracemos um Norte, preparemos nossa embarcação, esperemos o momento certo, com corrente e ventos a favor, e sigamos nosso curso. Vamos inundar esse mundão com muitos “Barcos a Velhos”!!!

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